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Perdoar (de verdade) pode evitar que mágoas afetem sua saúde


Há pouco mais de quatro anos, dei o pontapé inicial em uma fase radicalmente diferente em minha vida daquela que havia culminado em estresse profundo, em grande ganho de peso e na transformação quase completa da cor de meus cabelos e pelos corporais, principalmente no peito: saiu o castanho-escuro com tons de ruivo e entrou o alvo como a neve.

Primeiro, ainda que não tenha reduzido as horas de trabalho diárias, reduzi a minha carga de trabalho na realização de projetos que haviam se tornado ácidos em minha mente. Assumi muito mais uma postura de “pego o trabalho se dá para encaixar no meu cronograma” e “pego o trabalho se ele contribuir ao meu aprendizado”, deixando para trás uma de “pego tudo, ainda que levante de madrugada para fazê-lo”. Isso não mais.

Retomei o importante hábito diário da meditação e me tornei um leitor e estudioso ainda mais voraz de temas relacionados à saúde integral e à espiritualidade do que antes. Passei a fazer cursos e aprender de pessoas que, embora talvez mais simples do que eu em termos de “background” acadêmico, estavam muito adiante de mim em termos de conhecimento de fato. Também estudei com e fui aluno de pessoas com conhecimento acadêmico muito adiante do meu.

Há cerca de três, migrei para o vegetarianismo, um estilo de vida motivado, em mim, muito mais por compaixão com os outros seres vivos que coabitam conosco esse incrível planeta do que por repulsa pura ao sabor de qualquer tipo de carne.

Nesse processo, conheci e aprendi muitos aspectos da psicologia positiva, da epigenética e passei a dominar técnicas de cura que posso aplicar com sucesso em outros, embora, em última instância, a cura esteja única e tão somente na própria pessoa.

Ao longo dessa transformação, aprendi que fundamental à saúde são a gratidão e, importante em igual escala, o perdão, pessoal, de outros, e pedir perdão de outros, porque, sim, todos somos responsáveis.

Claramente não inventei nada disso. É tema recorrente na literatura mística há milênios, e os grandes mestres do oriente já discutiam amor em vez de ódio nos remotos tempos da formação de nossa cultura como ser inteligente que vive em agrupamentos (cada vez maiores).

Como diz Cláudia Collucci, em sua coluna na Folha de São Paulo onde discute o tema e o livro Perdão, a revolução que falta, de Heloísa Capelas, “perdoar não significa ser permissivo e pode evitar que mágoa afete a saúde”. Não saber perdoar impede a pessoa de alcançar sua própria felicidade e, por tabela, a dos outros.

A verdade é uma só: falar sobre perdão e até dizer que perdoou pode parecer fácil, mas não é, e o grande obstáculo é superar a ideia que é impossível esquecer seja lá o que foi que causou a mágoa. A sensação que temos é de que perdoar seria demonstrar que nossa dor não vale tanto assim, que não temos importância e até que seria sinal de fraqueza. Entramos em um ciclo sem fim da mágoa que alimenta a raiva, que alimenta a vingança, que alimenta a raiva, que, por sua vez, realimenta a vingança. Acabamos alimentando nosso próprio sofrimento e de todos os que nos cercam.

Sabe-se, hoje, que isso traz consequências para todas as áreas de nossa saúde e das nossas vidas, entramos em um estado tóxico de dor, ausência de tolerância e desejo de causar dor naqueles que (supostamente) causaram a dor em nós. Nossos pensamentos negativos ficam cada vez mais repetitivos, reclamamos cada vez mais de outros e de nós mesmos e criamos redes neurais cada vez mais profundas e difíceis de reverter. Retroalimentado, o processo nos leva à ansiedade e, potencialmente, à depressão o que, por sua vez, pode causar problemas cardíacos e, sim, câncer.

Ter posse desse conhecimento é liberador. No meu processo de autocura, direta (e indiretamente) pedi perdão e perdoei, ainda que no início do processo eu tenha me sentido, como qualquer ser humano, desvalorizado e humilhado. Com o tempo, descobri que, ao contrário, perdoar é construir uma virtude espiritual que não pode ser medida por terceiros, mas apenas pela própria pessoa que se entrega a isso. E, no momento que a pessoa senta para meditar, orar, dormir, bem como naquela hora da autoavaliação crítica, no fim da jornada torna-se possível concluir: “perdoei, espero ter sido perdoado”.

E você? Não é hora de perdoar?

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